Você alguma vez já teve medo? Quando era pequeno você
sempre tinha medo quando o relâmpago brilhava e o trovão soava? Você alguma vez
teve medo quando saiu sozinho à noite? Você alguma vez já sentiu medo de ficar
velho? E de ter que fazer operação ou de perder seu emprego? Você alguma vez já
se sentiu com medo de mudar-se e fazer novos amigos e perder velhos amigos?
Você já se sentiu com medo de não conseguir chegar ao Céu e perder a vida
eterna?
O medo é tão
velho quanto o pecado. A primeira
coisa que nós notamos em Gênesis, após Adão e Eva terem comido do fruto, é que
eles se esconderam. Deus veio procurando por eles e disse: "Adão, onde
está você? Por que você se escondeu?''
E ele disse: "Tive medo, Senhor."
Por que ele teve medo? Por causa do pecado.
O último livro da Bíblia, Apocalipse, dá ao medo um
tratamento nada promissor. "O vencedor herdará estas coisas, e Eu
lhe serei Deus e ele Me será filho. Quanto, porém, aos covardes [temerosos],
aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros,
aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que
arde com fogo e enxofre." Apocalipse 21:7 e 8. Que enorme grupo
múltiplo e variado nos é revelado aqui com o medo. O medo tem mau conceito nas
Escrituras, porque Deus tem algo melhor que o temor, para Seu povo.
Agora há um interessante episódio na vida de Jesus,
que nos leva diretamente a esse assunto. O
Evangelio de Marcos, capítulo 4, a história da tempestade no mar da Galiléia.
"Naquele
dia, sendo já tarde, disse-lhes Jesus: Passemos para a outra margem."
Verso 35.
Note que foi sugestão de Jesus atravessar o lago
naquela noite. Esta não era a idéia dos discípulos – não era
"loucura" deles. Isso não era costume deles, passar por um lugar
difícil. Eles se dispuseram a atravessar o lago pela ordem e convite do próprio
Jesus.
Jesus disse:
"Vamos para o outro lado."
"Despedindo a
multidão, O levaram assim como estava, no barco; e outros barcos O seguiam.
Ora, levantou-se grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam contra o
barco, de modo que o mesmo já estava a encher-se de água. E Jesus estava na
popa, dormindo sobre o travesseiro; eles O despertam e Lhe dizem: Mestre, não
Te importa que pereçamos! E Ele, despertando, repreendeu o vento, e disse ao
mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou e fez-se grande bonança.
"Então lhes disse:
Por que sois assim tímidos? Como é que não tendes fé?
"E eles, possuídos
de grande temor, diziam uns aos outros: 'Quem é Este que até o vento e o mar
Lhe obedecem?'" (Marcos 4:36-41. )
Você também
ficaria aterrorizado com tal experiência. Mas, vamos voltar e tentar nos
colocar no quadro, imaginando como foi naquele dia.
- O dia tinha sido muito ocupado. Jesus tinha contado muitas
parábolas. Ele tinha curado o
doente. Ele havia trazido conforto a corações perturbados. Agora, Ele estava
cansado. Ele fora dominado pela fome e exaustão. Deus? Sim. Faminto e cansado –
talvez até mesmo mais cansado que os demais! Assim eles se foram através do
mar, para um lugar quieto em busca de descanso.
Tão rápido, como é freqüente acontecer naquele mar, o
vento desceu vertiginosamente das
montanhas de Gadara e agitou violentamente a água, formando ondas furiosas e espumantes. As ondas, assim agitadas,
atuaram sobre o barco dos discípulos, ameaçando submergi-lo. Sem auxílio, na
fúria da tempestade, eles pensaram que iam afundar ao verem o barco ser
inundado.
Absortos (concentrado)
no esforço de se salvarem, eles esqueceram que Jesus estava no barco. Agora,
vendo que seus esforços eram em vão e apenas a morte diante deles, lembraram-se
dAquele que havia dado a ordem para atravessarem o mar. Em Jesus estava sua única esperança. Em desespero e angústia, eles
gritaram:
– "Mestre! Mestre!"
A descrição desse episódio, conforme relatado em
Mateus usa as palavras: "Senhor, salva-nos!" Mateus 8:25. Eles não
disseram: "Senhor, ajuda-nos." Há
uma grande diferença entre as duas expressões. Isso realmente fala sobre a questão do poder divino
e do esforço humano. Onde estava a cooperação deles? Ela estava em chegarem ao final de seus
próprios recursos e descobrirem que tudo que eles podiam fazer era gritar:
"Senhor, salva-nos." Ele teria que fazer tudo.
Eles já tinham feito todas as coisas que podiam fazer.
Eles eram rudes pescadores, que já tinham vivido toda a vida às margens desse
lago. Eles conheciam a Galiléia. Eles conheciam as montanhas, os ventos e as
tempestades. Eles conheciam muito sobre as grandes ondas e como manter seus
barcos sob controle. Eles compreendiam como distribuir os pesos e como
movimentar os remos. Isso realmente não era especialidade de Jesus. Ele havia
sido carpinteiro e não pescador. Ele era agora um pregador e Seu trabalho era
falar às multidões e curar os doentes. Ele tinha feito Seu trabalho o dia todo
e agora estava dormindo. Agora era a hora deles fazerem as coisas por si
mesmos. Essa era a área de
especialização deles.
Mas, finalmente eles descobriram que não eram capazes
de lidar com a tempestade. Eles haviam tentado tudo que sabiam para nada
conseguir. O barco estava afundando.
Finalmente se voltaram para Ele com o clamor: "Senhor, salva-nos, nós perecemos!"
Nunca uma alma que assim clama fica sem ser ouvida.
Jesus levantou-Se. Ergueu as mãos, tão freqüentemente usadas em atos de
misericórdia e disse ao irado mar: "Acalma-te,
emudece.'' (Marcos 4:39). A tempestade cessa. Acabam-se as ondas. As nuvens
desaparecem. As estrelas brilham. O barco descansa num mar sereno. Então,
voltando-Se para os discípulos, Jesus pergunta tristemente: "Por que sois
assim, tão tímidos [temerosos]? Como é que não tendes fé?'' Verso 40.
Bem, o que você faria sob tais circunstâncias se você
tivesse fé? Quando você tem fé e está na estrada, numa posição que o está
levando exatamente para uma colisão frontal, o que você faz? Relaxa e sorri?
Desvia as rodas da frente? Olha pela janela ao lado, observando o cenário?
Talvez pudéssemos relembrar os missionários morávios
que estavam a bordo de um navio com John Wesley. Ele havia ido à América para
converter os índios e tinha ficado frustrado dizendo: "Eu vim à América
para converter os índios, mas quem converterá John Wesley?"
Agora uma tormenta atingia o Atlântico e parecia que
eles estavam indo para o fundo do mar, mas os morávios não estavam com medo.
John Wesley ficou impressionado. E perguntou-lhes por que estavam tão calmos.
Eles disseram: "Oh, nós não temos
medo de morrer."
Só porque você tem fé, isto não significa que você não
irá até o fundo do mar. A fé não significa que você não será queimado numa
estaca com Huss e Jerônimo. Fé não
significa que você será curado do câncer. Mas as pessoas que têm fé não têm
medo de morrer.
E há algo
mais: As pessoas que têm fé não olham
para Deus como o último recurso. Em qualquer provação inesperada, voltam-se
para Ele tão naturalmente como as flores se voltam para o Sol.
- Duas pessoas estavam conversando sobre um amigo que
estava em péssima condição de saúde. Um falou sobre as várias curas, remédios e
médicos que haviam sido experimentados sem sucesso. E finalmente terminou a
descrição dizendo: ''Eu acho que a única coisa que falta fazer é orar.''
Nisso seu companheiro respondeu: "Puxa! Chegou nesse
ponto?"
A pessoa que tem fé nunca se esquece que Jesus está a
bordo, mas volta-se para Ele em cada emergência.
Bem, os
discípulos não tinham fé. Jesus os relembrou de tal falta, mas ainda os salvou. E estas são as boas-novas: Ele
os salvou a despeito da falta de fé.
Nós temos hoje muitos
temores. Temores sobre nossa saúde, nossos filhos, casas e terrenos. Temos medo
do que os outros podem pensar de nós. O homem pobre tem medo de não conseguir o
que quer, o homem rico tem medo de perder. Nós temos medo quanto à igreja,
futuro e salvação.
Ter Jesus a bordo não é suficiente para manter-nos sem
temor – isto não foi suficiente para os discípulos. Embora, Jesus estivesse a
bordo, eles O esqueceram quando a tempestade veio e as ondas subiram. Isso
ainda ocorre hoje. Nós podemos ter um relacionamento com Jesus e ainda não
depender dEle para todas as coisas. Os discípulos tinham um relacionamento com
Jesus. Eles caminhavam juntos, conversavam, oravam juntos, trabalhavam juntos. Eles
estavam muito próximos de Jesus, mas houve momentos em que eles demonstraram
que, a despeito de seu íntimo relacionamento com Jesus, ainda não dependiam
dEle para todas as coisas.
Mas Jesus permaneceu com eles. Ele era paciente com
eles e os encorajava a confiarem nEle. E chegou o tempo quando esses mesmos
temerosos discípulos puderam destemidamente encarar os caldeirões de óleo
fervendo, a espada, fogueiras, ou a crucifixão de cabeça para baixo; porque
eles tinham aprendido a lição de fé e confiança que Jesus tinha tentado
ensinar-lhes.
O amor de Jesus expulsa o temor e faz a diferença. A
Bíblia diz que o amor perfeito lança fora o temor. (Veja I João 4:18).
Inicialmente você poderia dizer: Bem, quem tem amor
perfeito? Se nós não temos amor perfeito, como podemos evitar o medo? Mas o
nosso amor não é perfeito. Cristo é o Único que tem amor perfeito e é Seu amor
perfeito que lança fora o medo.
Eu imagino que muitos pais já passaram pela
experiência de jogar para cima os filhos pequenos com 2 ou 3 anos de idade. Estes
pais gostava muito de jogá-los para cima e observá-los rindo e sorrindo em
completa paz, porque o papai os amava, e ele os seguraria.
- Um certo pai, disse que em uma noite, começou a
brincar no banco do piano. Meu filho subia no banco e pulava para meus braços.
Ele pulou e pulou tanto, até que fiquei exausto, e então eu disse: "Chega. Não mais."
"Mais
uma vez, papai. Mais uma vez.''
E finalmente, na tentativa de pôr um fim à
brincadeira, eu me afastei do local, imaginando que ele “captaria a mensagem”.
Mas ele nem mesmo olhou. Dessa vez, quando ele subiu
no banco do piano e pulou no ar, eu estava no outro lado da sala e ele teve uma
queda desagradável. Eu me senti muito mal! Mas não há nada igual ao amor e
confiança de uma criança.
Jesus é quem
disse isso: "Se não vos converterdes e não vos tornardes como
crianças..." Mateus 18:3. E Ele nos convida a lançar sobre Ele todos os
nossos temores porque Ele cuida de nós. (Veja I Pedro 5:7). Porém há uma grande diferença. Ele nunca fica
cansado. Ele está sempre ali. Ele
prometeu: "Eu nunca o deixarei ou o esquecerei." (Veja Hebreus 13:5.)
Mas ninguém na verdade se lança totalmente sobre Jesus, até que compreenda tal
amor e também compreenda que chegou ao fim de seus próprios recursos.
Note onde Jesus estava durante a tempestade. Ele
estava dormindo no barco. Ele não estava com medo. Bem, nós somos tentados a
pensar que era assim porque Ele era Deus. A compositora M. A. Baker diz:
"Seja
este revolto mar,
A ira de
homens, o gênio do mal,
Não
podem a embarcação tragar
Que leva
Cristo, o Senhor do mar."
Mas aqui está uma coisa que nós não podemos perder –
algo sobre o modo como Jesus vivia. Quando acordou para enfrentar a tempestade,
Ele estava em perfeita paz. Não havia nenhum traço de temor nas palavras ou no
olhar, pois não tinha nenhum temor no coração. Mas Ele não descansou na posse
do poder Onipotente. Não era como "o Senhor do mar" que Ele repousava
em silêncio. Tal poder, Ele havia dispensado. Ele havia dito: "Eu nada
posso fazer de Mim mesmo." João 5:30. Ele confiava no poder de Seu Pai.
Era na fé – fé no amor e cuidado de Deus – que Jesus descansava. E o poder
daquela palavra que acalmou a tormenta era o poder de Deus vindo sobre Ele, e
não o poder de Deus de dentro dEle.
Se os discípulos tivessem confiado nEle, teriam se
mantido em paz. O medo no tempo de perigo, revelou sua falta de fé. No esforço
de se salvarem, eles se esqueceram de Jesus, e somente quando estavam no
desespero da auto-dependência é que eles se voltaram para Ele, porque Ele podia
salvá-los.
Note aqui a aplicação espiritual envolvida no acalmar da
tempestade. Quando isso se trata da salvação, quão freqüentemente, encontramos
a nós mesmos preocupados se seremos ou não salvos. E tudo isso desvia nossa
atenção para longe de Jesus, nossa única fonte de força. Somos convidados a
dedicar a manutenção de nossa alma a Deus e confiar nEle. Veja I Pedro 4:19.
Ele nunca nos deixará, se O tivermos aceito como nossa esperança e nossa
salvação. Nós podemos deixá-Lo, mas Ele nunca nos deixará.
E o que dizer sobre vivermos a vida cristã? Algumas
pessoas podem aceitar o sacrifício de Jesus na cruz, mas quando lêem Apocalipse
3:5: "O
vencedor será assim vestido de vestiduras brancas e de modo nenhum apagarei o
seu nome do livro da vida", estão prontas a desanimar.
Elas dizem: "Eu nunca vou conseguir. Jamais serei
um vencedor. Tenho falhado e caído com tanta freqüência e muita facilidade."
Freqüentemente passamos por experiências
semelhantes à dos discípulos! Quando as tempestades da tentação nos
assaltam, os faiscantes relâmpagos nos atingem e as ondas violentas caem sobre
nós, lutamos com a tempestade sozinhos, esquecendo que há Alguém que pode ajudar-nos. Confiamos nas nossas próprias forças
até que nossas esperanças se perdem e estamos prontos a perecer. Então nos
lembramos de Jesus, e se nós O chamamos para salvar-nos, não chamaremos em vão.
Embora reprove tristemente nossa descrença e autoconfiança, Ele nunca deixa de
dar-nos o auxílio de que precisamos.
Para os cristãos há apenas
uma coisa a temer – apenas um temor legítimo. Devemos ter medo de confiar em
nossa própria força. Devemos ter medo de largar a mão de Cristo, ou tentar
caminhar a senda (caminho esteito) cristã
sozinhos.
Porém,
enquanto dependermos de Cristo, como Ele dependia de Seu Pai na Terra, estamos
seguros. Não precisamos temer enquanto
confiarmos em Seu perfeito amor.
É assim que JESUS trata os temerosos.
Morris Vendem
Tradução de José Carlos Ebling