O padrão de amadurecimento
humano que Deus estabeleceu para seu filho incluía uma mistura de prazer e
sofrimento. Podemos afirmar que, por meio de sua humanidade perfeita, Jesus
experimentou os momentos de maior enlevo que alguém pode ter, bem como os momentos
mais difíceis.
Vários versículos apontam para essa combinação de prazer
e sofrimento na vida de Jesus. Nenhum outro texto do Antigo Testamento é mais
convincente a respeito dessa verdade do que Isaías 53, a profecia sobre o Servo sofredor. Embora Cristo fosse
inocente (v.9b), foi da vontade do Senhor
esmagá-lo e fazê-lo sofrer como oferta pela culpa em favor dos filhos de Deus
(v.10). Depois desse sacrifício, Jesus veria
a luz e ficaria satisfeito (v.11).
Hebreus 12:2-3 fornece detalhes úteis porque, nesse
texto, vemos que Jesus realiza duas missões complementares. Ele é o autor e o consumador da fé –
literalmente aquele que lidera, que desbrava um caminho nunca trilhado, e a
consuma. Isso porque Jesus não veio a esta terra apenas para nos salvar da
morte; Ele nos mostrou como viver.
Notemos esse padrão de prazer e sofrimento também nos
versículos iniciais de Hebreus 12: Pela
alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e
assentou-se a direita do trono de Deus (v. 2b). E, logo em seguida, vemos a
aplicação imediata para os discípulos: Pensem
bem naquele que suportou tal oposição [...] para que vocês não se cansem nem
desanimes (v.3).
Gosto da maneira como Brent Curtis e John Eldredge
abordam essa mistura paradoxal de sofrimento e prazer. Eles falam a respeito da
capacidade de nosso coração de amadurecer, de realmente expandir para assimilar
mais prazer e mais sofrimento.
Em uma parte de seu livro, Curtis e Eldredge aludem ao
prazer recém-descoberto que têm os novos convertidos. Mencionam um missionário
amigo deles que pregava para mulçumanos no Senegal.
Depois de observar o comportamento das pessoas após a conversão, aquele
missionário declarou que muitos mulçumanos, pela primeira vez, passaram a
perceber a existência das flores. Isso porque, em sua cultura sombria e repleta
de regras, os mulçumanos tendem a valorizar mais o fazer em detrimento do ser.
Eles só valorizam uma árvore, por exemplo, se esta produzir frutos, e não
apenas por sua beleza inerente...
... Curtis e Eldredge também falam sobre o
desenvolvimento da capacidade dos discípulos de suportar sofrimento; um limiar
crescente que lhes permite assimilar cada vez mais a dor. “Pode ficar com esse
dom para você”, poderíamos dizer, sarcasticamente. Entretanto, se tivermos essa
atitude, estaremos desperdiçando o melhor plano do nosso Criador para nós. Se
nosso desejo fosse atendido, íamos tornar-nos anões emocionais e espirituais.
Esquecemos, por exemplo, que a palavra latina para paixão [lat, passione] significa literalmente sofrer. A dor está intrinsecamente ligada ao prazer. Pensemos a
respeito disso da seguinte maneira. Sermos abençoados
como uma família unida e amorosa é uma dádiva divina difícil de igualar.
Entretanto, nesses mesmos relacionamentos, também corremos o risco de lidar com
sofrimentos, desapontamentos e perdas ainda maiores.
Muitos conhecem o menor texto bíblico, João 11.35: “Jesus chorou”. Entretanto, quantos se
lembram do texto seguinte: então os
judeus disseram: “Vejam como ele o amava”? A profunda tristeza de nosso
Senhor espelhou o profundo amor que sentia por um de seus amigos mais chegados
[Lázaro].
Os crentes que escolhem uma rota alternativa, que
preferem permanecer seguros no que diz respeito a demonstração afetivas,
prejudicam seu envolvimento emocional e seu potencial de crescimento.
Certamente a possibilidade de sofrermos em um relacionamento amoroso é grande o
suficiente para que qualquer um procure autopreservar-se. Entretando, C.S.Lewis
nos lembra que “Deus sussura em nossos prazeres, mas brada em meio ao nosso
sofrimento”.
“O discípulo completo” pg.235/236 (Amadurendo como Jesus)